Este ano a mostra de arquitetura, decoração e paisagismo, restituiu ao publico campineiro o antigo prédio do relógio, inaugurado em 1903, no pátio ferroviário.

O edifício de tijolinhos à vista com estrutura metálica se estende ao longo de três faixas paralelas, que constituem os dois diferentes setores da mostra: as faixas laterais recebem os ambientes fechados pensados de maneira livre e independente; e, a faixa central, por onde correm os trilhos da antiga linha de trem, fica reservada ao trânsito dos visitantes, ao passeio, à um senso comunitário, talvez, inspirado pela natureza mesma do complexo: lugar de passagem, lugar de comércio, de viagem, confluência de histórias, sonhos, saudades...

É aí que a gente entra: para reverenciar o lugar. O espaço ora ameaçador dos trilhos da antiga Companhia Mogiana torna-se um belo saguão. Espaço para encontros, para ventilar a mente e os olhos, para conversar, para passar devagarinho, sentar-se um pouco, tomar alguma coisa, pensar no que se viu. Espaço para se deixar tomar pela fascinação tão singular aos edifícios históricos, para se deixar tomar pela realização de uma cidade com uma história poderosa, mas muitas vezes esquecida, ignorada em razão das urgências da modernidade, das altas frequências do mundo contemporâneo. Nosso projeto foi concebido de tal modo que, ocupando uma parcela desse enorme saguão, lhe preserve o brilho e a grandeza. Mais que isso: com ele oportunizamos a contemplação do espaço, sensibilizando o visitante para suas nuances atmosféricas; estabelecemos um diálogo com a história e com os materiais.

Nossas escolhas para esse projeto combinam a ousadia de adicionar ao prédio histórico formas e padrões dissonantes, com a reverência que lhe devemos em razão de sua arquitetura e de sua história. Nossa ideia é a de criar, ali mesmo, dentro do saguão, uma praça, incentivar um tipo de convivência típica de um momento urbano, para quem quiser passar, que passe, para quem quiser ficar, pois fique, para quem quiser passear, passeie... o importante da praça é que seja vivida, permeável, “passável”, “namorável”...

As cores terrosas são predominantes. Estão, na realidade, presentes em tudo o que está no chão. Pedras portuguesas amarelas sobrepostas de um mobiliário em madeira, couro e tecidos todos dentro daquele espectro. No ar, o azul... Uma obra de arte azul flutuando sobre a praça. É o céu possível, é o céu da praça, é nosso jeito de proporcionar ao visitante aquele arrebatamento do espírito, aquele respiro mental, aquele estado de suspenção que o céu sempre proporciona a quem o procura. O que queremos, em suma, é o seguinte: um projeto pé-no-chão com um momento transcendental.